domingo, 10 de agosto de 2008

Quarto mês de gestação

Nop, não estou grávida. Muita calma nessas horas. Aliás, nada a ver o angu com a salsa.
O fato é que estamos no meio do nosso quarto mês na NZ. E isso é importante pq, vc pergunta. Pq todo mundo que estava aqui antes de nós, e não são poucos brasileiros, disseram que em termos de saudade, esse é o pior período. Até o sexto mês. Se vc conseguir sobreviver, vai ficar tudo bem.

Estou dizendo isso porquê está passando o jogo de futebol masculino Brasil e NZ na tv. E se posso comentar, a camiseta da seleção é horrível e a razão para eles estarem usando-a é pior ainda. E por aqui, o jogo não é transmitido na íntegra. Tem comerciais, além do intervalo. Estranho eu sei. O Ro está xingando e sofrendo de saudade do Cléber (hj ele confessou que até o Galvão tá fazendo falta. Alguém se habilita a gravar uns Globo Esporte, Auto esporte e Esporte Espetacular e mandar num dvd?). A seleção canarinho (cianótico) está ganhando de 1X0.

Voltando ao angu. Depois de pensar muito sobre o porquê do aumento exponencial da saudade, eu cheguei a uma boa conclusão. É porque o quarto mês é quando a NZ deixa de ser a NZ e passa a ser casa. Aí dá conflito de interesses. O coração está lá, mas já está aprendendo a estar aqui. Vc já acostumou com o colchão, com as placas de trânsito, com o supermercado, com o horário da vida, com o clima, com o correio, com o banco, com a comida estranha, com compras de second hand, com as vacas, com o jornal da tv, com os programas matinais, com a chaleira elétrica, com água quente nas torneiras, com a wharehouse, com os feriados daqui, com as pessoas daqui, com a vida por aqui. E o terrível é ficar comparando, lembrando, desejando que as pessoas de lá estivessem aqui.

E por aqui é tão fácil se sentir em casa. E se vcs vissem o que eu vejo pela janela todos os dias ou andando de carro, montanhas brancas, colinas verdes irretocáveis, sol nascente deixando tudo laranja, sol poente doendo o olho de tão cor de rosa, nevando, poças de água congeladas e pastos brancos, tudo tão perfeito, tão bem feito, tão organizado. Deus foi tão generoso e tão inteligente (não tem formiga. nem pernilongo. nem sapo) quando criou a NZ que é impossível não se apaixonar.
Não estou dizendo que é só moleza. Eu nunca imaginava, por exemplo, o tipo de exaustão moral e psicológica que dava mudar de país. Ter que descobrir o funcionamento da vida. Ficar trocando de língua, ficar traduzindo pra todo mundo na ida e na volta da conversa, resolver as coisas, explicar como funciona no Brasil e pior, ouvir que o seu jeito é estranho, que não funciona, que coração de galinha é comida de cachorro e couve é comida de vaca. Cansa pra caramba.
E isso tudo muda no quarto mês. Vc se torna parte da paisagem e cai a etiqueta de gringo que a gente carrega na testa. Eu só espero isso passar logo, pq quem está perto de mim já deve estar cansado de me ouvir falar da minha mãe, do meu pai, do meu irmão, da cléo, etc e tal.

Resumindo a ópera. (SAUDADE)³

2 comentários:

Unknown disse...

Como sempre adoro ler seus textos Fe!!! Mas como assim, coração é comida de cachorro? Eu amo comer isso rsrs
Beijos pra vc e pro Rodrigo!!!

Anônimo disse...

Realmente a Mônica tem razão. Textos excelentíssimos e com aquele de salsa com angu que aparentemente, poucos sabem fazer tão bem quanto você.
Quarto mês sem reencontros das amigas, quarto mês sem planos furados de saída aos finais de semana, quarto mês e a vida segue seguindo =)

ps- quero conhecer a Nova Zelândia. Comofaz?rs