terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Culpa e responsabilidade

Acordei hoje e encontrei no Facebook uma avalanche de fotos e protestos e reclamações sobre a depredação do Aeroporto de Cumbica feita pela Gaviões da Fiel durante a despedida do Corinthians rumo ao Japão.

A notícia está aqui ó: notícia

E aí eu passei a manhã inteira remoendo esse assunto, matutando, pensando, até que não aguentei mais e tive que vir aqui escrever, então perdão se eu digressar um pouco, mas pensei bastante e tenho muito o que dizer sobre esse assunto do qual particulamente não sou fã.

Fã. Fanático. Hum.

Eu nunca fui fã, nunca fui torcedora e sinceramente, até hoje tenho dificuldade em entender a regra do impedimento, apesar das muitas tentativas do pai corintiano. Porém contudo todavia, entendo perfeitamente o torcedor e a relação dele com o time. Só que no meu vocabulário tem outro nome. Se chama "religião". E como qualquer religião, tem quem siga, tem quem goste, tem quem nem ligue e tem o fanático. Você torce/ reza/exorciza os demônios, você presta atenção na missa/jogo/culto, você dá seu rico dinheirinho pra comprar banco pra igreja/entrada do estádio/carro novo pro pastor, você espera que um poder superior ouça suas preces/coloque a bola na rede/corte seu cabelo, mas na verdade você tem ZERO controle sobre o resultado. Na alegria ou na tristeza.

ZERO. E é essa "questã" que me deixa bastante irritada. Na religião, você reza pra um poder superior que é invisível e tem fé que o Invisível vai fazer alguma coisa pra você não passar fome, mas racionalmente sabe que no final das contas, quem vai na padaria buscar o pão é você e o dinheiro pra pagar o pão saiu do seu bolso. Total controle sobre o resultado, certo? Você poderia, inclusive, comprar um pão doce de chocolate com banana e ser feliz, que ninguém iria te impedir.

No futebol (e no esporte em geral), além de rezar e/ou torcer, você aí, sentadinho na frente da tv, não tem nenhum controle. Sinto lhe informar, mas a sua meia fedida que não é trocada desde 1984 porque dá sorte, não dá sorte coisa nenhuma. Quem tem sorte não é você, nem o time. É o jogador, o milionário que está lá TRABALHANDO, correndo que nem um tonto com uma bola no pé. É só deles a culpa e a responsabilidade pelo resultado do jogo. O salário milionário que você aí, da meia fedida, direta ou indiretamente está pagando.

Repito, ele está lá trabalhando. Esse é o emprego dele. Não é vocação dos padres, não é dedicação de professor, não é amor à camisa (pfff...), é amor ao dinheiro que paga as contas dele. Se ele é bom e se ele é feliz, ponto pra ele, só pra ele. Por algum acaso vc faz torcida pro carinha de TI quando ele vem consertar seu computador? Ou chora quando a moça da padaria sai da padaria pra trabalhar na farmácia? O milionário do carrão, o seu bezerro de ouro, não está fazendo mais do que a obrigação contratual dele, como eu, você e o cobrador do ônibus. Largue a mão de ser tonto você também e vai cultuar o carinha do TI que você ganha mais.

O meu ponto é: se os jogadores - e o clube - tem a responsabilidade de ganhar ou perder e se o torcedor é o bem mais importante do time segundo eles próprios, por que até hoje a lei não colocou em cima dos clubes a responsabilidade de mudar essa mentalidade neandertal de "quebrar tudo na alegria ou na tristeza" ?

QUEBROU, PAGOU. Se alguém tem dinheiro aí no Brasil, são os grandes times de futebol, as torcidas organizadas e a CBF, certo? Tem que ser lei, tem que ser praticada e tem que ser todo dia e toda cadeira do estádio e todo papelzinho de bala no chão. Nao dá pra eles quererem lotar o estádio ou fazer um acordo trilhardário de publicidade e depois tirar o bundão da reta e falar que o "torcedor não é minha responsabilidade". É sua responsabilidade sim, dentro e fora do estádio, enquanto o energúmeno está torcendo e falando em nome do time, com ou sem camiseta. Por que o medo de botar a culpa no bois certos?

E se a língua que todo mundo entende é a lingua do bolso, por que não mostrar pro energúmeno torcedor que, se ele não sabe controlar a sua frustração de não ter controle sobre o resultado do time, se ele não sabe controlar o instinto primal de quebrar o caminhãozinho do colega no parquinho, se ele quer bater no cidadão por causa da cor da camisa, se ele é grandinho o suficiente pra sair de casa sem fralda mas quer quebrar a estação de metrô que ele usa por que o time perdeu ou ganhou (haja terapia no mundo pra ensinar a lidar com as emoções..), ele vai ter que pagar.


Deve-se criar uma campanha clara e popular, financiada pela CBF com apoio e incentivo das torcidas, com os bezerros de ouro jogadores explicando, em português claro e chulo se necessário, que pra cada cadeira, cada cone, cada extintor de incêndio novo que a CBF tiver que pagar, o preço do ingresso vai subir. O preço da mensalidade da torcida organizada vai subir. O preço da camiseta oficial vai subir.O preço do metrô vai subir. O preço do cachorro quente na porta do estádio vai subir. E que a culpa, meu amigo, é SUA. É do torcedor, da massa anônima e sem rosto. Não me importa que você, da meia fedida, não fez nada, estava em casa comendo o que sobrou do pernil do almoço e coçando a picada de pernilongo na perna. Pode reclamar à vontade.

Da próxima vez, alguém vai denunciar o cretino que começou a briga, que pegou o tijolo, que xingou a mãe alheia. Por que está mexendo no meu bolso, no seu bolso, no presente de Natal do netinho que mal e mal tá dando pra parcelar.

Ou da próxima vez, ao invés de xingar o outro no facebook ou pela janela, você não vai falar nada, pq eu Maria Fernanda, não estava dentro do campo correndo que nem tonta atrás da bola, logo, eu Maria Fernanda, tenho ZERO controle sobre o que aconteceu, com ou sem meia fedida.

Coragem, o Brasil precisa de coragem, de clareza, de transparência e de responsabilidade. E aprender a lidar com as frustrações da vida.


P.S. Esse assunto me deixou tão nervosa e com tanto a dizer que tive até que optar por não dizer o quanto um país pode aprender do esporte. E como pode ser diferente sim, sem violência, mesmo que o esporte em campo seja o mais físico possível. Como o rugby.





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