sábado, 25 de fevereiro de 2012

Da morte e outros problemas

Semana passada, um dos maiores e melhores amigos do meu pai faleceu, após uma breve luta contra essa praga maldita que é o câncer. Eu tinha vários "ângulos" para escrever esse post e até agora não consegui me decidir: sobre como ele tinha quase a mesma idade do meu pai e isso me afeta incrivelmente, isso de lidar com a mortalidade alheia; sobre como a nossa família pequena era extendida aos finais de semana quando íamos para o longíguo Tatuapé e brincávamos sem parar com a Mari e a Roberta, suas duas filhas lindas, que também regulam de idade comigo e com meu irmão; sobre como é insuportavelmente difícil receber uma notícia dessas - por qualquer meio - e não ter como abraçar ninguém nem ajudar meu pai a passar por isso. Sobre como é insuportavelmente difícil receber essas notícias e não poder fazer nada, nadica de nada, a não ser escrever, escrever uma msg de texto, um status update no facebook, um email, um post no blog.

Sobre como o Tio Dé, Edélcio Teixeira, era uma pessoa iluminada e como ele e sua família igualmente iluminada fizeram parte da nosso história.

Da maneira mais egoísta possivel, resolvi escrever, como meu irmão fez, pra Mariana e pra Roberta, porque essa é perspectiva que conheço, a do filho. Pior, a da filha que teme a cada dia receber um telefonema fatídico, um que certamente virá um dia, tão certo como o imposto recolhido, morte e impostos. A certeza indubitável. Para um filho pródigo, distante, o medo de não dizer adeus. O medo da viagem de muitas horas para encontrar uma tristeza infinita.

Mari e Rô, nós nunca estivemos perto, mas participamos, ao longo desses quase 30 anos, das vidas alheias, primeiras comunhões, recitais de dança, os oficiais e os da sala, aniversários importantes, domingos de sol, domingos de chuva, o aprendizado lento da arte de fazer e comer miojo - muita água, pouca água, requeijão, algumas viagens inesquecíveis e ainda agora, casamentos. Nós acompanhamos umas às outras todas as vezes que os pais chegavam em casa, às vezes não tão felizes assim afinal a vida não foi sempre fácil, e diziam que haviam estado com o outro "pai" e a pergunta "Como estão as meninas?" sempre seguia. Algumas fotos de vez em quando. Nossas vidas seguem à distância um paralelo de carinho, amizade e um laço que nunca vai se desfazer, porque o seu pai um dia foi meu pai também, a sua mãe um dia cuidou dos meus dodóis também. Um laço formado por uma amizade muito maior que a nossa, infinda e agora eterna. Hoje eu quero que o meu pai seja seu também, para que vcs nunca deixem de ser abraçadas por uma barba grisalha bigoduda e por uma risada grave, aquela que enche a sala de música.

Digam onde dói e eu limparei suas feridas. Somos irmãs distantes, de pais irmãos. 
O seu pai foi mesmo uma criatura iluminada e fez de nós sortudos um pouco melhores, um pouco mais felizes.

Não consigo colocar aqui o tamanho do sentimento de impotência que tenho, estar longe em horas como essa, e trocaria todas as nova-zelândias do mundo para estar aí. Perdão.

Saibam que, como meu pai, minha mãe e meu irmão, já chorei pela injustíssima morte do seu pai, mas também sorri, como estou sorrindo agora, ao lembrar de tantos momentos com vocês todos. Obrigada.

Seremos sempre irmãs distantes, porque fardo dividido é fardo mais leve. Contem sempre comigo.

Um beijo,
Fê =)